A japonesa Panasonic Holdings disse nesta segunda-feira (30) que está reduzindo a produção de baterias em 60% devido às vendas aquém do esperado de alguns modelos para o principal cliente, a americana Tesla.
A medida foi anunciada no momento em que a empresa informa um lucro líquido recorde de 288 bilhões de ienes (US$ 1,9 bilhão) nos seis meses até setembro, potencializado, justamente, por um forte subsídio para seu negócio de baterias de veículos elétricos (EV) nos Estados Unidos.
O diretor financeiro do grupo, Hirokazu Umeda, anunciou os cortes da produção em uma teleconferência de resultados on-line nesta segunda-feira, dizendo que a empresa já havia paralisado algumas linhas de produção no Japão para reduzir os estoques de baterias. A redução de 60% refere-se aos níveis do primeiro trimestre e, provavelmente, durará pelo menos até março de 2024, de acordo com a apresentação da empresa.
“Estamos conversando com muitos outros clientes potenciais nacionais”, disse Umeda. Segundo ele, a empresa reduziu o fornecimento de baterias do modelo 1865, mais antigo, para a Tesla no segundo trimestre e planeja usar a capacidade de produção para atender novos clientes.
“Estamos pensando em muitos usos para a capacidade da bateria”, disse Umeda, sugerindo que os futuros clientes podem não estar limitados às montadoras. As baterias mais antigas da Panasonic são usadas no Modelo X e no Modelo S da Tesla, de acordo com Umeda.
A capacidade de produção doméstica de baterias EV representa cerca de 20% do total global do grupo. Umeda acrescentou que a produção no Japão “não crescerá tão bem como nas fábricas americanas” no futuro.
O lucro recorde da Panasonic no primeiro semestre ocorreu apesar da desaceleração nos produtos eletrônicos de consumo na Ásia e nos equipamentos de automação de fábrica na China, graças, em parte, ao subsídio de 27,6 trilhões de ienes do governo federal dos Estados Unidos no segundo trimestre, segundo a empresa.
A Panasonic está dividindo os subsídios governamentais com a Tesla, com a qual opera a fábrica de baterias Gigafactory em Nevada. A empresa japonesa prevê que o subsídio acrescentará 110 bilhões de ienes ao seu lucro líquido anual. A Panasonic também disse que os fundos governamentais ajudarão a aumentar o seu lucro líquido anual em 73%, para um máximo histórico de 460 bilhões de ienes.
Os seus lucros do primeiro semestre também foram impulsionados pela crescente procura de peças automotivas e equipamentos para aviões.
Além disso, a empresa computou como lucro a dissolução de uma fabricante de painéis LCD no primeiro trimestre, um movimento que contribuiu com 110 bilhões de ienes.
No entanto, a companhia rebaixou sua previsão de vendas e lucro operacional. Prevê, agora, um aumento do lucro operacional anual de 38,6%, para 400 bilhões de ienes, em comparação com a previsão de julho de um aumento de 49%. A mudança deveu-se, em parte, à fraca procura por países de eletrônica de consumo, como a China e o Japão, e por equipamentos de automação de fábrica na China. O crescimento da procura de sistemas de aquecimento e de ar-condicionado na Europa também foi lento.
Analistas dizem que a posição estabelecida da empresa nos Estados Unidos permitiu-lhe beneficiar-se do apoio governamental naquele país.
“A Panasonic conseguiu obter apoio governamental mais rapidamente do que outros fabricantes que investem nos Estados Unidos”, disse Masashi Okada, diretor da consultoria Arthur D. Little Japan.
A fabricante japonesa é uma das maiores e mais antigas fontes de baterias EV nos Estados Unidos, com a Gigafactory em operação desde 2017. Como o tamanho do subsídio é baseado nos níveis de produção reais e não planejados, a Panasonic tem sido uma das maiores beneficiárias, ao lado da sul-coreana LG Energy Solution, disse Okada.
A Panasonic afirma que decidirá sobre uma terceira fábrica nos Estados Unidos até março e que planeja quadruplicar sua capacidade global de produção de baterias EV até 2031. A empresa também está aumentando a produção em Nevada, para lucrar com a crescente demanda e os subsídios.
A unidade de bateria EV Panasonic Energy é responsável por 12% das vendas do grupo Panasonic. Mas, nos próximos três anos, “60% do aumento no lucro virá da Panasonic Energy”, segundo Ryosuke Katsura, da SMBC Nikko Securities.
A reação do mercado à forte dependência da Panasonic das vendas de bateria foi mista. O preço de suas ações disparou em junho, depois que a Panasonic Energy anunciou planos para expandir ainda mais seus negócios nos Estados Unidos, mas caiu em outubro, quando a Tesla, seu principal cliente, apresentou resultados decepcionantes e as preocupações com a economia dos Estados Unidos aumentaram.