A partir de amanhã, começam a ser ouvidas as conclusões finais das partes no julgamento oral e público que decorre na 10ª Câmara Criminal contra 16 advogados, notários, engenheiros, contabilistas e empresários por alegada fraude na venda de bens expropriados terreno há 70 anos às margens do rio Suquía, onde o bairro General Paz e o centro da cidade se encontram.

A Justiça determinou oito dias que começarão às 8h e vão até 14h ou 17h45, dependendo do dia. Se o cronograma for cumprido, o veredicto poderá ser conhecido no dia 14 deste mês. Amanhã, segunda-feira, os promotores Raúl Garzón e Laura Battistelli apresentarão seus argumentos.

Desde a semana passada ambos se concentram na análise dos depoimentos e provas incorporadas durante o debate iniciado no final de dezembro. É daí que virá a acusação.

O núcleo duro da manobra está integrado, segundo a investigação que vai ao ar no julgamento, pelos advogados Ernesto Alfredo Blanco, Alejandro José Damia (membros além do escritório Cobrex); os notários Daniel Eduardo Ahumada, Esteban Ferrer Frontera e Lucrecio Lanza Castelli, e o contador e empresário Gustavo Trebucq. Eles foram os nomes mais citados ao longo do debate.

Gustavo Trebucq
GUSTAVO TREBUCQ. O contador e empresário teria vendido os lotes, ignorando a desapropriação do terreno há 70 anos. As defesas argumentam que esse procedimento nunca foi aperfeiçoado.

Um dos últimos procedimentos realizados foi a vistoria visual do terreno em causa que decorreu na passada quarta-feira. A visita incluiu os blocos 14 e 30, contíguos na rua Ortiz de Ocampo, entre Lima e 25 de Mayo, com vista para a Costanera nas margens do rio Suquía.

Estiveram presentes os três membros do tribunal, Juan José Rojas Moresi (presidente), Mario Centeno e Carlos Palacio Laje; o procurador Raúl Garzón, peritos e numerosos advogados de defesa. Houve também Trebucq, cujo sobrenome serviu para nomear o arquivo. Foi ele quem comprou o Manzana 30, onde havia uma praça, da Bergallo & Pastrone SRL (B&P) e depois vendeu para a firma View – autora da ação.

Atualmente, os lotes adquiridos pertencentes ao quarteirão 30 contíguos a um espaço público de lazer com jogos infantis e a ponte que liga o bairro General Paz ao centro da cidade foi construída em parte do terreno, estendendo-se pela rua 25 de Mayo.

Esboço
BLOCO 30. A empresa View pagou US$ 6,5 milhões por três lotes (retângulo preto) localizados nas ruas Ortiz de Ocampo e 25 de Mayo. Atualmente essa rua foi ampliada e está ligada ao centro por uma ponte.

Anteriormente, os promotores haviam estendido a acusação aos advogados Blanco e Damia, que assessoravam José Abel Salomón (falecido), acionista e proprietário da B&P.

Durante a audiência, segundo a promotoria, surgiu a hipótese de tentativa de fraude em maio de 2004, mas com outras vítimas. Um deles era o engenheiro Ramos, ex-funcionário do governo de Eduardo Angeloz a quem os advogados teriam oferecido o terreno mas a venda foi frustrada, pois um tabelião alertou o potencial comprador de que se tratava de um terreno público. Ela verificou os dados por meio de uma consulta no Departamento de Hidráulica. Este foi o fato que se somou à acusação original de Blanco e Damia.

Expropriação. As defesas dos réus afirmam que as terras foram declaradas de utilidade pública por meio de lei, mas o procedimento nunca foi aperfeiçoado por falta de pagamento aos proprietários.

A desapropriação é um processo complexo. O Estado declara um bem de utilidade pública por meio de uma lei. Depois deve haver uma sentença judicial que declare a transferência do domínio e ali seja lavrada a nova escritura do imóvel. Proferida a sentença, o expropriado deixa de ser proprietário e só pode reclamar o pagamento porque a sentença é um acto jurídico que regista a propriedade do imóvel em nome do Estado provincial.

No caso Trebucq, a acusação original sustenta que a única reclamação que existia era a cobrança de um bônus, ao contrário do que os advogados insistem em que o processo não foi concluído. Essa é uma das discussões centrais do debate. Nas peças processuais, promotores, denúncia -de José Cafferata Nores- e defensores apresentarão suas conclusões. Os juízes decidirão.

Edifícios
NOVA INVESTIGAÇÃO. O promotor Gavier investiga, em outro arquivo, se a Bolsa de Grãos e três outros prédios foram construídos em Manzana 14, sobre o sistema de esgoto.

Quatro prédios nos esgotos que descem do bairro General Paz?

Paralelamente ao processo que tramita na 10ª Câmara Criminal, foi aberta outra investigação que está a cargo do procurador de Crimes Complexos, Enrique Gavier. É em quatro edifícios construídos na Ortiz de Ocampo em 300, quase na esquina de Lima. Ficam na Manzana 14, também expropriada na década de 1950 do século passado. Um dos edifícios é a Bolsa de Grãos.

A diferença com os terrenos incluídos no ‘caso Trebucq’ é que, neste caso, a sentença que executou a declaração de utilidade pública do imóvel foi proferida no rastro do esgoto. A desapropriação ocorreu em 1944. Por isso, Gavier analisa se as torres de apartamentos foram construídas pisando ou não na rede de esgoto. No primeiro caso, haveria crime porque haveria avanço em terreno de domínio público para prestação de serviço.

Terminada a vistoria, uma vizinha abordou este ponto de venda e comentou que comprou um apartamento há seis anos e que ainda não consegue registrá-lo, aparentemente por irregularidades na aquisição do terreno.

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