Presidente que dá a cara em entrevista coletiva após derrota entra no jogo da opinião pública para perder de pouco. Esta era a situação de Leila Pereira, presidente do Palmeiras. Por melhor que ela se saísse em seu pronunciamento, na sexta-feira, era impossível tornar a insatisfação da torcida, depois da eliminação do time na semifinal da Libertadores, em contentamento. O melhor que a cartola podia era se justificar e perder de 1 a 0. E deu errado. Se já perdia antes, depois virou goleada.

Leila vacila quando relembra maus momentos da história alviverde, para, de alguma forma, defender a administração atual. Todo mundo sabe que o Palmeiras passou por fases ruins: a péssima campanha em 2014, que quase culminou no terceiro rebaixamento; as quedas da primeira divisão, em 2002 e 2012; e a fila de 17 anos sem títulos, entre 1976 e 1993, que tanto doeu nos mais velhos. Todo mundo sabe, mas não é o tipo de argumento que um presidente possa usar publicamente.

Leila erra quando passa a impressão de que se coloca acima da instituição. Todo mundo sabe que existe a “era Crefisa”, na qual, também graças ao dinheiro que a patrocinadora injetou, títulos e mais títulos foram conquistados. Pode crer que o torcedor tanto sabe como reconhece. O que ele não aceita é um discurso que de algum jeito engrandeça a instituição financeira em detrimento do clube. Consciente ou não do efeito das palavras que usou, foi isto que a presidente fez com seu discurso.

Futebol é construído por narrativas. Não é apenas um jogo em que alguém ganha e alguém perde. Do que o palmeirense é acusado pelos torcedores adversários? De ter um clube financeiramente dependente de sua patrocinadora, o que não é verdade. De torcer para um time que só foi competitivo em sua história quando teve uma cogestora, seja Crefisa ou Parmalat, o que também não é verdade. Ao tentar se defender, sem querer, a presidente deu argumentos para os rivais.

A desgraça de uma goleada é que os gols marcados pouco importam — seja em campo ou na opinião pública, seguindo a metáfora que abre este texto. Se perdeu de 5 a 0 ou 5 a 2, ninguém quer saber. Mas Leila também fez gols. Quando ela sustenta que não contrata só por contratar, que existe um processo constituído entre presidente, diretor de futebol e comissão técnica, que alguns jogadores precisam de tempo para performar, que há dedicação às categorias de base, ela tem razão em tudo.

Seria fácil para Leila aumentar o valor do patrocínio das próprias empresas, ou emprestar dezenas de milhões por meio delas ao Palmeiras, a título de “amor ao clube”, e comprar uma dúzia de jogadores por ano. Usados pelo técnico ou não, seria um problema de Abel Ferreira. A presidente sairia por cima, e o diretor seria querido pelos empresários que recebem comissões sobre as negociatas. É o que quase todo dirigente faz. Se os mais ou menos ricos já agem assim, imagine uma bilionária.

Na administração e nas finanças, com o que se sabe hoje, a presidente do Palmeiras faz um mandato responsável. No futebol, por mais que a frustração ainda esteja latente, um time que ganha tudo o que ganhou nos últimos anos, e que chega à semifinal da Libertadores pela quarta vez consecutiva, mal planejado não está. É a comunicação que precisa mudar. Leila terá noites menos intranquilas quando souber o momento para dizer certas coisas — sobretudo, o que não se deve dizer nunca.