O oposto Darlan, estrela do Brasil no Pré-Olímpico de vôlei, comandará a seleção no Pan-Americano de Santiago, a partir desta segunda-feira. Do time que conquistou a vaga em Paris-2024, em jogo contra a Itália no Maracanãzinho, apenas sete estão entre os 12 atletas no Chile. Os desfalques se estendem ao treinador, já que a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) ainda não anunciou o substituto de Renan dal Zotto, que pediu demissão. Giuliano Ribas está provisoriamente no cargo.

O Brasil estreia às 10h30, contra a Colômbia, na Arena Parque O’Higgins. É integrante do Grupo A e terá ainda México (amanhã, às 13h30) e Cuba (na quarta-feira, às 10h30) como rivais na primeira fase. Pelo Grupo B, competem Porto Rico, República Dominicana, Chile e Argentina.

— Darlan chega como começou: empolgado, espontâneo, bastante sanguíneo e contagiante… — afirma o treinador interino.

O oposto, que caiu no gosto da torcida brasileira, conta que “ainda não caiu a ficha”, referindo-se à dimensão que ele alcançou com a conquista do Pré-Olímpico. Mas ele já começa a ter alguma noção. Diz que, após a competição, passou a ser abordado na rua, no shopping, no aeroporto e, agora, na Vila dos Atletas. E que “está ficando meio estranha essa coisa de o pessoal querer foto, porque continuo sendo só eu, sabe?”.

— Aquele foi o torneio da minha vida, mas ainda não caiu a ficha da imensidão que foi o Pré-Olímpico para mim — reflete Darlan, que promete replicar a energia vista na ocasião. —A torcida ter vindo com a gente foi algo que nos ajudou bastante, gostei muito que me abraçaram. Vou fazer o meu melhor, tentar chamar o pessoal para vir com a gente de novo, tenho certeza de que terão brasileiros na torcida.

O jogador afirma, no entanto, que não se escorará no que fez no Rio e que sabe que precisa ser efetivo novamente. Quando questionado sobre o assunto, divagou:

— Fui o melhor no Pré-Olímpico… Mas e daí? Sei que são momentos e não posso me apoiar nisso. Agora é outro campeonato, e tenho de me provar aqui também. Esta é uma excelente oportunidade para eu dar o recado de que não foi um momento e que estou aqui no radar para Paris.

Seu momento é tão especial que ele não se chateia sequer com o fato de não ter por perto o irmão mais velho, Alan, e o técnico Renan, que o chamou pela primeira vez para a seleção adulta (na Liga das Nações de 2022).

Darlan sente falta “das dicas de Renan”, a quem considera um amigo. Mas garante que “cresceu” e sabe “caminhar com as próprias pernas”, sem Alan ao lado. E reforça que gosta de jogar tendo que assumir a responsabilidade e no aperto.

— Pode-se dizer que fiquei órfão, sim (sem o técnico). Mas, no esporte, é assim mesmo. Posso ter bastante gente ao meu lado hoje e, amanhã, nem tanto. O que importa é que tenho certeza de que, se eu mandar mensagem para os dois, eles vão me responder, e isso me deixa leve — comenta Darlan: — Aprendi a viver bem sem a companhia dele (Alan), porque ele saiu de casa muito cedo. No início, eu não entendia bem e achava que ele ficaria fora só por uns dias. Eu não conhecia nada de vôlei ou do mundo, era muito pequeno. Mas, depois, passamos a ter mais contato, mesmo que via internet.

Darlan diz que “deu sorte” de ter jogado com Alan e que eles se apoiam durante as competições, um torcendo pelo outro, em meio ao desejo de “honrar” a família. A trinca de irmãos tem ainda Alex. Segundo Darlan, seus amigos brincam que ele tem um pouco de cada — as brincadeiras de Alex e a calma de Alan. Mas o caçula pondera:

—Eu acho que sou mais o Alex mesmo (risos).

O ponteiro Honorato, outro que estava no Pré-Olímpico, comentou a importância do último torneio e a falta que Renan lhe faz. Acredita que, mesmo com time mesclado, o Brasil é um dos candidatos ao título no Pan.

— Tiramos um peso das costas com a classificação para Paris. Agora, viramos a página para o Pan, um desafio novo, um grupo novo. Só treinamos juntos agora, em Santiago. Mas os jogadores com sangue novo têm muita energia e estão motivados. — declarou o ponteiro, que ainda sente a saída de Renan. —Foi delicado, porque se trata da saúde dele. Meu primeiro pensamento foi respeitá-lo e acolhê-lo. Só ele sabe como foi essa pressão toda por resultados. Espero que fique bem e feliz com suas escolhas. Eu ainda estou triste, porque sei como é difícil estar ali. É muita pressão. Me compadeci.

Honorato se refere ao fato de que sofre críticas por não ser um jogador alto (1,87m) para a posição. Ele, porém, compensa com a técnica:

— Sempre recebi críticas e já me deixei levar por elas, mas hoje tenho certeza de que, se estou aqui, é porque eu mereço e treinei muito. As pessoas não sabem as noites difíceis que passei e as lágrimas que derramei.

*A repórter viaja a convite da PanAm