O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, terá que conviver com um mar de ceticismo em torno da entrega de um déficit zero no ano que vem. Sem garantia de receitas suficientes para cumprir esse objetivo, a equipe econômica precisará bloquear até R$ 53 bilhões em gastos já no início do ano que vem, ano de eleições municipais, como mostrou reportagem de Alexa Salomão e Idiana Tomazelli na Folha de S. Paulo.
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É o equivalente a 25% de todas as despesas discricionárias, ou seja, aquelas que o governo tem liberdade para gastar. Esse seria um corte muito difícil, já que tem muita gente dentro do governo e do PT que não quer nem ouvir falar na palavra contingenciamento.
A possibilidade de cumprir a meta de resultado primário zero, que está colocada dentro do Orçamento, tem sido uma pauta permanente. A cada hora aparecem dúvidas, e são dúvidas razoáveis.
Uma delas é que a equipe econômica enviou um pacote de R$ 168,5 bilhões em receitas extras que precisam ser aprovadas pelo Congresso. Nesta semana, inclusive, deve acontecer a votação do projeto dos fundos de investimento offshore e exclusivos. Deve ser aprovado, mas com alterações que vão reduzir a expectativa inicial de arrecadação.
Há uma série de projeções que parecem muito otimistas para analistas, mas que a equipe econômica considera que na verdade são conservadoras. E a cada hora aparece uma despesa nova que é criada, e que dificulta essa caminhada.
De qualquer forma, não é um grande problema se o Brasil tiver um déficit pequeno em 2024. O que importa é a trajetória de redução do rombo. Quando o governo assumiu, o mercado financeiro inteiro estava fazendo projeções negativas, mas Haddad garantiu que iria reduzir o déficit já no primeiro ano e zerar no segundo, em uma aposta ousada.
O importante é o compromisso com a redução da dívida e a caminhada para o equilíbrio.