Governos, sociedade civil organizada e empresas estiveram em Nova York por duas semanas em setembro discutindo soluções, desafios e metas para evitar e mitigar mudanças climáticas que estão colocando em risco a vida no planeta.

A cidade foi palco de eventos como a Assembleia geral da ONU, o Brazil Climate Summit (evento organizado pela Columbia University), o Pacto Global da ONU e a Semana do Clima de Nova York (NYCW).

Enquanto as discussões reverberam nas mesas das instituições públicas e privadas, o mundo já se prepara para a 28ª Conferência das Partes, reunião anual dos países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que vai ocorrer em dezembro em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

Até lá, no Brasil, o assunto quente é a votação do Projeto de Lei no 412/2022, que tem por objetivo criar o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE). É a regulação do mercado de carbono no país.

Tal como destacou em Nova York a diretora do BNDES Luciana Costa, o Brasil precisa de um novo modelo econômico e colaboração geopolítica. Na mesma oportunidade, Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, apontou que a macro estabilidade é necessária para o crescimento e o atingimento de metas climáticas. Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda, sugeriu que o Brasil faça parcerias com países e empresas relevantes, uma vez que somos uma solução para o clima.

No tema de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), Bruce Usher, professor da Columbia Business School, demonstrou que investir em energia renovável, carros elétricos e armazenamento de energia pode reduzir as emissões globais em 50% nos próximos 30 anos. Para a transição, é necessário apostar em tecnologias já existentes, em tecnologias em desenvolvimento, mas principalmente em Soluções Baseadas na Natureza (SBN).

Já a presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Marina Grossi, apontou que a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas são temas relacionados e o Brasil é um importante hub para soluções nessas frentes. O Brasil é um climate hub.

Para o Brasil se consolidar como um gigante verde, é necessário um planejamento integrado envolvendo o público, o privado e o terceiro setor, identificando os nossos avanços sociais e climáticos, ao mesmo tempo em que se trabalha a melhoria da infraestrutura, educação e governança. Oportunidades no curto prazo neste papel de liderança não vão faltar, como a presidência do G20, dos BRICS e a recepção da COP30 em Belém (PA), em 2025.

As nações desenvolvidas pedem para conservarmos nossas florestas, sem se dar conta dos esforços públicos e privados neste sentido. Compradores internacionais são rígidos quanto ao fim do desmatamento, mas normalmente desconhecem instrumentos legais como o Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), que determina a conservação de Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal, áreas que podem ocupar entre 20% e 80% da propriedade e que devem ser conservadas. Nossas exportações agropecuárias carregam, embutidas em si, conservação de vegetação nativa, habitat e biodiversidade e a regulação climática.

O mercado internacional clama por projetos de carbono capazes de viabilizar a compensação ou “offset” de emissões e compromissos de neutralização. Mas poucos estão abertos a entender e fomentar projetos florestais (como REDD+) e pagamentos por serviços ambientais (como o PSA Carbonflor), casos em que o Brasil se destaca internacionalmente.

O Brasil precisa agir. E uma parcela está, com bastante inteligência e entusiasmo, como vimos em Nova York e esperamos se repetir em Dubai.

  • Yuri Rugai Marinho é socio diretor da ECCON Soluções Ambientais
  • Marcelo Stabile é gerente de Carbono da ECCON Soluções Ambientais

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Yuri Rugai Marinho é socio diretor da ECCON Soluções Ambientais — Foto: ECCON/ Divulgação

Marcelo Stabile é gerente de Carbono da ECCON Soluções Ambientais — Foto: ECCON / Divulgação
Marcelo Stabile é gerente de Carbono da ECCON Soluções Ambientais — Foto: ECCON / Divulgação