O sistema se tornou tão complexo que criou uma “economia paralela” de blogueiros, influencers e até mesmo agentes de viagens filiados à Disney que oferecem seus serviços de planejamento de viagem.

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O pano de fundo para essa multiplicação de passes, eventos extras e “experiências” oferecidos pela Disney é a estratégia da empresa de aumentar sua receita por visitantes, diante de uma queda no fluxo de turistas para os seus parques e um recuo no chamado “turismo de vingança”, movimento surgido no pós-pandemia que levou os consumidores a ampliarem fortemente seus gastos em lazer depois dos longos meses de confinamento no auge da Covid-19.

Mas, afinal, quanto custa curtir os parques do Walt Disney World em família? Até que ponto vale a pena pagar pelo fast pass, a fila rápida que reduz o tempo de espera para entrar nas atrações e que nos parques da Disney tem o nome de Lightning Lane?

Ingresso individual, passes, atrativos extras

O ingresso para o Magic Kingdom, carro-chefe dos parques, custa até US$ 189 (R$ 947) , e o acesso a todos os quatro parques da Disney World em Orlando em um único dia chega a US$ 252 (R$ 1.261), quase o mesmo valor de um ingresso de teleférico para uma estação de esqui de primeira linha, como Aspen e Vail, e em linha com os preços dos parques administrados pela Universal e SeaWorld.

Esse preço é para o ingresso simples. O que agora vem irritando os viajantes é a variedade estonteante de complementos que a Disney oferece. Isso inclui vários passes para evitar filas com preços dinâmicos, que, segundo a Disney, cerca de metade dos frequentadores do parque acabam comprando

E até o passeio VIP top de linha, em que um guia particular acompanha os visitantes para o início das filas e para áreas exclusivas a um custo de até US$ 6.300 por dia.

E isso sem contar uma gama enorme de atrativos extras, veja alguns exemplos:

  • Maquiagem e penteado de princesa: US$ 230 (R$ 1.151)
  • Oficina de construção de sabre de luz da Star Wars: US$ 250 (R$ 1.251)
  • Jantar no castelo da Cinderela, o Cinderella’s Royal Table: US$ 79 (R$ 395), excluindo bebidas
  • Pulseira: Até US$ 46 (R$ 230), é um dispositivo eletrônico que armazena os ingressos e desbloqueia quartos de hotel, servindo também como souvenir.

Fila rápida é vantajosa? Quanto tempo economiza?

Se o visitante não está disposto a enfrentar mais de uma hora na fila para curtir as atrações mais disputadas da temporada, terá que desembolsar, no mínimo, cerca de US$ 220 (R$ 1.101) – mas o valor pode chegar a US$ 340 (R$ 1.702,) no caso de uma família de quatro pessoas.

Em contrapartida, a vantagem é economizar até mais de quatro horas de tempo de fila, que podem ser aproveitadas em outras atividades ou simplesmente para dar uma descansada.

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Veja quantos minutos podem ser economizados evitando filas em cinco atrações no Magic Kingdom em um dia movimentado:

  • Space Mountain – 68 minutos
  • Jungle Cruise – 67 minutos
  • The Haunted Mansion – 52 minutos
  • Big Thunder Mountain Railroad – 48 minutos
  • Pirates The Caribbean – 48 minutos
  • Custo dos passes sem fila para quatro pessoas: de US$ 220 a US$ 340
  • Economia de tempo total: quatro horas e 43 minutos
  • Fonte: Touringplans.com

O levantamento acima foi feito com base no movimento do Magic Kingdom na semana da Páscoa, comemorada em abril deste ano. Foram considerados o máximo de duas compras no Lightning Lane para quatro pessoas, com cada passe no Genie+ custando US$ 35 (R$ 175) no dia 4 de abril e um tempo de espera de apenas sete minutos em cada Lighting Lane.

Quanto custa a viagem para uma família de 4 pessoas?

A estratégia da Disney de oferecer cada vez mais atrativos extras e serviços adicionais podem aumentar – e muito – o valor da visita aos parques do complexo.

Para se ter uma ideia, o custo de uma viagem de uma semana para uma família de quatro pessoas para a Disney em Orlando pode variar de US$ 5 mil (R$ 25 mil) a US$ 25 mil (R$ 125 mil), podendo ultrapassar US$ 40 mil (cerca de R$ 200 mil) para uma experiência de alto nível, de acordo com agentes de viagem.

Com todos os atrativos, uma estadia de seis noites em um resort Disney, incluindo um tour vip para evitar todas as filas, pode custar 10 vezes mais do que férias econômicas, considerando também uma viagem em alta temporada vis a vis uma visita durante a baixa estação.

Compare, abaixo, os preços e o que está incluído num pacote completo e em outro, mais econômico.

Pacote sofisticado: total de US$ 42.460 (R$ 212,5 mil)

  • Hotel: Grand Floridian, nível Club, duas suítes – US$ 26.400 (R$ 132.000)
  • Gastos com alimentação – US$ 3.000 (R$15.000)
  • Ingressos Park Hopper plus* – US$ 3.600 (R$ 18.000)
  • Skipe the line (fura filas) – tour VIP de um dia sem filas- US$ 6.300 (R$ 31.542)
  • Dois passes da Lightning Line por dia, por pessoa – US$ 1.000 (R$ 5.000)
  • Passes Genie+ – US$ 700 (R$ 3.500)
  • Oficina para construir seu próprio sabre de luz – ingressos para quatro pessoas – US$ 1.000 (R$ 5.000)
  • Makeover de princesa – ingresso para duas pessoas – US$ 460 (R$ 2.303)

Pacote básico: US$ 4.280 (R$ 21.430)

  • Hotel: All star Music Resort, quarto standart – US$ 900 (R$ 4.506)
  • Ingressos únicos para o parque – US$ 2.380 (R$ 11.920)
  • Gastos com alimentação – US$ 1.000 (R$ 5.000)

O orçamento acima para dois adultos e duas crianças foi elaborado a partir de pesquisa feita com base em informações da Disney. Os preços do pacote mais sofisticado equivalem à semana de pico da temporada de Natal, enquanto que o pacote básico se refere à baixa temporada de agosto.

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Os preços para Skip-the-line são uma média dos preços dinâmicos da Disney, enquanto os passes Genie + e Lightning Lane de última geração duram cinco dias e o VIP tour do sexto dia dá direito a fular fila. Já o Park Hopper Plus inclui acesso a todos os parques temáticos e aquáticos, além de uma experiência complementar.

Área central do parque Magic Kingdom, no Walt Disney World, em Orlando — Foto: Eduardo Maia/Agência O Globo
Área central do parque Magic Kingdom, no Walt Disney World, em Orlando — Foto: Eduardo Maia/Agência O Globo

Gastos 40% maiores do que antes da pandemia

No total, afirmam fontes da própria Disney, os visitantes gastam 40% mais por dia nos parques dos EUA do que gastavam antes da pandemia.

– A Disney fez muito para aumentar os preços e os gastos por visita, ajudando a atenuar os efeitos da menor frequência – disse Laura Martin, analista de mídia da Needham & Co. – Acabou virando, em muitos casos, um produto premium, basicamente para pessoas ricas – ressalta.

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Embora a Disney não compartilhe números específicos sobre o comparecimento aos parques, os executivos reconheceram, na mais recente conferência com analistas de mercado sobre resultados, que os resorts da Flórida – que também incluem o Animal Kingdom, o Hollywood Studios e o Epcot Center – estavam tendo um desempenho inferior devido ao menor comparecimento e aos custos operacionais mais altos.

Mas isso não está impedindo a Disney de apostar alto nos parques. No mês passado, a empresa disse que vai dobrar os investimentos para US$ 60 bilhões nos próximos 10 anos.

A Disney reconhece que, para os turistas, o excesso de atrativos e opções de adicionais acaba tornando cada vez mais complexo o planejamento da viagem. E diz que está tentando resolver essa situação.

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“Todo mundo tira férias de maneira diferente, por isso oferecemos uma ampla gama de opções, incluindo maneiras de economizar e encontrar um ótimo valor e, ao mesmo tempo, continuamos a lançar atualizações que tornam o planejamento cada vez mais fácil”, disse Avery Maehrer, diretor de comunicações da Disney World, por e-mail.

– Os parques se tornaram muito mais caros e repleto de complexidades – disse Len Testa, que administra o site Touring Plans Plans, que coletou dados de passeios para estimar que o comparecimento está 15% menor este ano. – O hóspede médio está gastando mais e e reduzindo o tempo de permanência.

Os pais que pensavam que a simples compra de um ingresso garantiria um dia fácil de diversão com seus filhos podem acabar se frustrando por perder horas e horas caso não tenham desembolsado uma grana com os passes para fila rápida e acabar deixando as crianças desapontadas por perderem o jantar com o chefe Mickey.

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– Não é apenas confuso. Mas, agora, muitas das coisas complexas com as quais as pessoas se deparam custam dinheiro – disse Quincy Stanford, que escreve para o site de planejamento de férias da Disney AllEars.Net.