Os republicanos realizaram na noite de terça-feira a quarta votação — em menos de duas semanas — para a nomeação do próximo ocupante do cargo de presidente da Câmara de Deputados dos Estados Unidos, em meio ao caos que tomou conta do partido, profundamente fragmentado após os três candidatos anteriores não conseguirem apoio interno suficiente para assumir o posto. Mike Johnson, deputado de Louisiana, venceu uma votação interna do partido com pouca oposição e parece ter as melhores chances de obter sucesso na sessão plenária prevista para ocorrer na tarde desta quarta-feira, embora o apoio unânime de seus correligionários ainda seja incerto.
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Devido à pequena maioria de seu partido, que ocupa 221 assentos na Casa, Johnson não pode perder mais do que quatro votos republicanos se todos os 212 democratas estiverem presentes e votando em seu próprio líder — o deputado Hakeem Jeffries —, como têm feito consistentemente. É necessária uma maioria (ou seja, 217 votos) para ganhar o martelo.
Johnson tem o trunfo de ter o voto de alguns membros da ala mais radical do partido, além do apoio do ex-presidente Donald Trump, que se manifestou na manhã desta quarta-feira em suas redes sociais: “Minha forte sugestão é ir com o candidato principal, Mike Johnson, e fazer isso logo!”. Essa é a segunda vez que o magnata se diz favorável à nomeação do partido: na semana passada, ele também expressou apoio ao candidato Jim Jordan, de Ohio — que, por sua vez, não obteve a maioria dos votos necessários para ser eleito, assim como Steve Scalise (Louisiana).
Na terça-feira, em uma tentativa de acabar com a crise, os republicanos escolheram um terceiro nome: Tom Emmer — o mais moderado dos nove que apresentaram candidaturas ao cargo —, mas ele, consciente das dúvidas de alguns trumpistas a apoiá-lo em uma sessão plenária e após críticas públicas de Trump, preferiu renunciar após algumas horas. Apesar de ser apoiador de Trump, Emmer é considerado desleal por alguns seguidores do ex-mandatário, sobretudo por ter votado a favor da certificação da vitória de Biden nas eleições de 2020.
Enquanto isso, a Câmara segue paralisada desde a destituição, em 3 de outubro, do presidente anterior, Kevin McCarthy, alvo de uma rebelião de partidários do ex-presidente. E tudo isso em um cenário de grande tensão interna: os congressistas têm prazo até 17 de novembro para alcançar um acordo sobre um orçamento para evitar a paralisação parcial da administração federal dos EUA, o que obrigaria centenas de milhares de trabalhadores a permanecerem temporariamente em casa sem direito a salário.
No cenário internacional, o Congresso tem duas questões pendentes. Sem um presidente, a Câmara de Representantes não pode votar o pedido do presidente Joe Biden para desbloquear mais de US$ 100 bilhões em fundos de emergência, em particular para ajuda militar a Israel e Ucrânia.
Johnson, 51 anos, é advogado e está em seu quarto mandato na Câmara. Ele serviu na equipe de defesa do impeachment de Trump, desempenhou um papel de liderança no recrutamento de republicanos da Câmara para assinar um documento legal apoiando um processo que buscava anular os resultados das eleições de 2020 e foi o arquiteto da tentativa de Trump de se opor à certificação deles no Congresso em 6 de janeiro de 2021.
Cristão evangélico, ele se opõe profundamente ao direito ao aborto. No ano passado, patrocinou uma legislação que proibiria efetivamente a discussão sobre orientação sexual ou identidade de gênero em qualquer instituição que atendesse crianças com menos de 10 anos e que recebesse fundos federais. (Com New York Times e AFP.)