Livre ou escravo? Era uma das perguntas do primeiro Censo realizado no Brasil em 1872. Dos formulários em papel distribuídos em lombo de burro aos modernos tablets utilizados na pesquisa divulgada nesta terça-feira, os dados do levantamento mostram a evolução do Brasil em 150 anos.

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Hoje, o IBGE divulga dados sobre sexo e idade da população, em mais uma etapa de divulgação do Ceso 2022. Confira, a seguir, algumas curiosidades dos 12 Censos já realizados no país.

Censo de 1872 — Foto: Arte GLOBO

O primeiro Censo do país, em 1872, foi realizado durante a monarquia. O chamado Recenseamento da População do Império do Brasil foi considerado uma das políticas inovadoras de Dom Pedro II e durou quatro anos.O levantamento é o único registro oficial da população escrava no Brasil.

Projeto de lei aprovado pela Câmara e pelo Senado em 1870 determinando a realização do Censo  — Foto: Arquivo Senado
Projeto de lei aprovado pela Câmara e pelo Senado em 1870 determinando a realização do Censo — Foto: Arquivo Senado

O lombo de burro ou de cavalo foram então o melhor meio para que os recenseadores atravessassem o país com seus formulários em papel que foram respondidos por 70% da população brasileira.

A perguntas eram bem simples: nome do chefe da família, idade, sexo, estado civil, escolaridade, se a pessoa era livre ou escrava, religião, profissão e se tinha deficiência física aparente.

  • População: 9.930.478
  • Escravos: 1.510.806
  • Analfabetos: 6.856.594
  • Maior província: Minas Gerais era a mais populosa com 1.669.276 habitantes
  • Menor província: Mato Grosso era a menos populosa com 53.750 habitantes

Apesar do sucesso do Censo de 1872, a Diretoria Geral de Estatística foi dissolvida pelo governo imperial em 1879. Isso que levou ao adiamento do recenseamento de 1880 para 1887, o que não aconteceu, já que o Império caiu em 1882.

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Para a realização do primeiro Censo da República, iniciado em 31 de dezembro de 1890, foram solicitados à Imprensa Nacional 5,3 milhões de mapas, 45 mil folhetos de instruções e 50 mil cadernetas.

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O slogan “Recensear todos os habitantes da República dos Estados Unidos do Brasil, no lugar e na habitação em que se acharem”, no entanto, ficou longe de ser cumprido. Segundo o IBGE, passados cinco anos do início da coleta, nenhum estado do país havia concluído as apurações. Os dados foram publicados às vésperas da realização do Censo de 1900.

  • População: 14.333.915
  • Província mais populosa: Minas Gerais concentrava 22% da população
  • Concentração populacional: Minas, Bahia, Rio e São Paulo juntos concentravam 50% da população
  • Sigilo: é regulamentada a confidencialidade das informações prestadas ao Censo
  • Mais perguntas: Nessa edição eram 21 questões a serem respondidas, 7 a mais que no primeiro levantamento
Censo de 1900 — Foto: Arte GLOBO
Censo de 1900 — Foto: Arte GLOBO

A carência de pessoal e a desorganização marcaram os trabalhos do Censo de 1900, o terceiro censo geral do país e o primeiro após a promulgação da Constituição da República.

Documento com os resultados do Censo de 1900, publicado em 1907 — Foto: Arquivo IBGE
Documento com os resultados do Censo de 1900, publicado em 1907 — Foto: Arquivo IBGE

Em muitos distritos a pesquisa não foi realizada, enquanto em outros os dados não foram enviados a Diretoria Geral de Estatísticas. Os resultados finais saíram em 1907.

  • População: 17.438.434
  • Analfabetos: 7.270.000, retirando da conta os menores de idade
  • Capital: o Rio de Janeiro, Distrito Federal à época, tinha 746.749. Minas Gerais continuava a ser a província mais populosa, seguida por São Paulo, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Sul
  • Deficiência: no formulário de 1900 havia apenas três colunas para classificar as pessoas com necessidades especiais: cegos, surdo-mudo e idiota
Censo 1906 — Foto: Arte GLOBO
Censo 1906 — Foto: Arte GLOBO

Ordenado por Pereira Passos, prefeito do Rio de Janeiro (então Distrito Federal), o Censo de 1906, apesar de não ser nacional, marca início da “modernidade censitária brasileira”, nas palavras do professor Nelson Senra, pesquisador do IBGE.

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  • Profissionalização: É o primeiro levantamento no qual houve a contratação de demógrafos sanitaristas para interpretar os números
  • Clareza: Essa edição também inaugurou o uso de gráficos e tabelas na divulgação para facilitar a compreensão dos resultados

A conturbada conjuntura política e o cerceamento da autonomia da Diretoria Geral de Estatística impediu a realização do terceiro Censo Decenal da República em 1910 que previa inovações como:

  • Limitação de uso: as informações coletadas seriam utilizadas pela primeira vez apenas para fins estatísticos, como acontece até hoje
  • Queime depois de ler: a lei previa a incineração dos questionários após verificação e apuração dos dados
  • Economia: O levantamento também fariaa uma “investigação sumária dos elementos econômicos do país”.
Censo 1920 — Foto: Arte GLOBO
Censo 1920 — Foto: Arte GLOBO

A proximidade do centenário da República, celebrado em 1922, aumentou a pressão sobre o Censo de 1920. Após dois levantamentos conturbados e a suspensão do recenseamento em 1910, a sociedade e a imprensa cobravam dados estatísticos que revelassem a realidade brasileira.

Governo mostra a evolução da população usando os dados dos levantamentos feitos até 1920 — Foto: Arquivo IBGE
Governo mostra a evolução da população usando os dados dos levantamentos feitos até 1920 — Foto: Arquivo IBGE

  • População: 30.636.605
  • País do futuro: o Brasil era o segundo país do mundo em número de crianças entre 0 e 14 anos, atrás apenas da Espanha
  • Censo pop: A divulgação foi feita em jornais, missa e até em cinejornais nos cinemas
Na Revolução de 1930, Getulio Vargas se torna presidente  — Foto: Acervo O Globo
Na Revolução de 1930, Getulio Vargas se torna presidente — Foto: Acervo O Globo

A Revolução de 1930, que derrubou o governo de Washington Luís e colocou Getúlio Vargas no poder, impediu a realização do censo, que estava marcado para 1º de setembro de 1930.

Censo de 1940 — Foto: Arte GLOBO
Censo de 1940 — Foto: Arte GLOBO

Qual a “língua falada em casa”? Essa era uma das questões do Censo de 1940, realizado às vésperas da Segunda Guerra Mundial.

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A preocupação era mapear as regiões do país em que se falasse alemão, italiano ou japonês pelo temor era de que se o Brasil entrasse em guerra contra os países do Eixo, poderia haver reação em algumas regiões.

O Censo de 1940 foi o primeiro realizado sob a coordenação do IBGE — Foto: Arquivo IBGE
O Censo de 1940 foi o primeiro realizado sob a coordenação do IBGE — Foto: Arquivo IBGE

O Censo de 1940 é o primeiro coordenado pelo IBGE , criado em 1936. Seus resultados levaram sete anos para serem publicados.

  • População: 41.236.315
  • Jovens: Mais da metade da população tinha até 19 anos
  • Efeito Segunda Guerra: A guerra atrasou entrega de maquinário que seria usado pelo Censo, foi necessário usar os mesmos equipamentos de 1920
  • Religião: O questionário passa a dar outras opções de respostas, além de católico, foram incluídos como alternativas, protestante, ortodoxo, israelita e positivista
Censo de 1950 — Foto: Arte GLOBO
Censo de 1950 — Foto: Arte GLOBO

O Recenseamento Geral de 1950 integrou o Censo das Américas, em atendimento à ONU. Nos estados e municípios foram criadas comissões censitárias para auxiliar na divulgação da operação.

Selo comemorativo do Censo de 1950 — Foto: Arquivo/IBGE
Selo comemorativo do Censo de 1950 — Foto: Arquivo/IBGE

Cinco censos seriam realizados, com diferentes datas de referência: demográfico, agrícola, industrial, comercial e de serviços.

  • População: 51.944.397
  • Densidade demográfica: No Brasil de 1950 havia 6,1 habitantes por quilômetro quadrado
  • Equilíbrio exato: No Rio Grande do Sul metade da população de homens e a outra de mulheres
  • Questionário reduzido: O número de perguntas caiu de 45 para 25
Censo de 1960 — Foto: Arte GLOBO
Censo de 1960 — Foto: Arte GLOBO

Para apurar os dados do Censo de 1960 foi importado dos Estados Unidos um computador de grande porte, o Univac 1105, o chamado de “cérebro eletrônico”. O calor, no entanto, prejudicou o funcionamento do equipamento de 25 toneladas e o os dados acabaram sendo somados a mão.

  • População:70.992.343
  • Taxa de analfabetismo: 39,5% na população acima de 15 anos
  • Rural: 59,5% dos brasileiros viviam no campo
  • Lares visitados: 13,5 milhões
  • Amostragem: pela primeira vez usou-se a técnica de amostragem.A taxa de fecundidade, às características econômicas, por exemplo,o foram investigados em 25% dos domicílios.
Censo de 1970 — Foto: Arte GLOBO
Censo de 1970 — Foto: Arte GLOBO

“Noventa milhões em ação… Pra frente, Brasil! Salve a Seleção!”, a trilha sonora da Copa de 70 errou por pouco: éramos 94.508.583, segundo o Censo de 1970. O levantamento que marca o início da estruturação do IBGE como conhecemos hoje além de dados demográficos, apurou ainda informações da indústria, agropecuária e de comércio e serviços.

Propaganda do Censo de 1970 em  Cuiabá — Foto: Arquivo IBGE
Propaganda do Censo de 1970 em Cuiabá — Foto: Arquivo IBGE

  • População: 94.508.583
  • Distrito Federal: Capital tinha 9 anos e 536.492
  • Analfabetos: 33,6% entre os maiores de 15 anos, uma pequena queda em relação ao anterior
  • Apuração: sem atualização dos equipamentos, IBGE usava os computadores da PUC-Rio
  • Fitas magnéticas: Pela primeira vez o resultado foi publicado também em fitas magnéticas que podiam ser lidas pelos computadores da época. O material foi comprado por pesquisadores americanos, ajudando estudos sobre o Brasil no exterior
O uso das máquinas perfuradas da IBM permitiu que o resultado fosse divulgado pela primeira vez no mesmo ano — Foto: Arquivo do IBGE
O uso das máquinas perfuradas da IBM permitiu que o resultado fosse divulgado pela primeira vez no mesmo ano — Foto: Arquivo do IBGE

O Censo de 1980 foi o primeiro a ter os resultados preliminares divulgados no mesmo ano de realização da pesquisa. Uma das grandes inovações da operação foi o sistema informatizado de acompanhamento da coleta, que permitia conhecer, semanalmente, o número de setores concluídos e de pessoas recenseadas.

  • População: 121.150.573
  • Brasileiros com 80 anos ou mais: 590.603
  • Municípios: 3.991
  • Brasileiros com nível superior: 1.809.518
  • Resultado: foram divulgados 129 volumes de dados
  • Tecnologia: perfuradoras da IBM foram usadas para acelerar o processo
Censo 1991 — Foto: Arte GLOBO
Censo 1991 — Foto: Arte GLOBO

Com o slogan “Ajude o Brasil a ter um bom censo”, o levantamento de 1991 trouxe novidades como a Comissão Consultiva, o Projeto Escola e a divulgação dos resultados em disquetes.

  • População: 146.917.459
  • Municípios: 4.491
  • Famílias: 52,3% eram formadas por casais com filhos
  • Necessidades especiais:Retirado do questionário em 1940, o tema “incapacidade física” voltou a ser pesquisado.
Censo de 2000 — Foto: Arte GLOBO
Censo de 2000 — Foto: Arte GLOBO

Inovação tecnológica foi a marca do Censo Demográfico 2000. Entre as novidades estão a digitalização dos questionários respondidos por reconhecimento óptico de caracteres. A divulgação foi feita em várias mídias, como CD-ROMs e DVDs, considerados de última geração na época. A coleta de dados, no entanto, continuava feita em papel, com os questionários preenchidos a lápis.

Propaganda do Censo 2000, o censo digital — Foto: Arquivo do IBGE
Propaganda do Censo 2000, o censo digital — Foto: Arquivo do IBGE

  • População: 169.590.693
  • Mais gente nas cidades: 81,2% da população brasileira já era urbana
  • Quem fez o censo: foram contratadas 200 mil pessoas
  • Domicílios visitados: 54 milhões
Censo 2010 — Foto: Arte GLOBO
Censo 2010 — Foto: Arte GLOBO

No primeiro Censo do século XXI, a papelada foi completamente substituída pelo modelo eletrônico. A prancheta dos recenseadores deu lugar a computadores. A pesquisa também pode ser respondida pela internet.

Agente censitário do IBGE trabalha no Censo: tecnologia usada na coleta  de dados — Foto: Divulgação/IBGE
Agente censitário do IBGE trabalha no Censo: tecnologia usada na coleta de dados — Foto: Divulgação/IBGE

  • Famílias chefiadas por mulheres: saltou de 22% para 37,3% de 2000 para 2010
  • 10% mais ricos: concentravam 44,5% da renda dos brasileiros
  • Deficiência: 45,6% declararam ter alguma necessidade especial
  • Divorciados: percentual quase dobrou de 1,7% para 3,1%, de 2000 para 2010
  • Modernidade: os PDAs eram equipados com GPS e neles havia mapas digitais com os endereços a serem visitados
  • Equipe: 190 mil recenseadores
  • Domicílios visitados: 67,6 milhões em 5.565 municípios brasileiros.
  • Redes sociais: IBGE inaugurou presença no Twitter
Movimentação no centro da capital amazonense, Manaus, uma das maiores cidades do país — Foto:  Julcemar Alves/Onzex Press e Imagens/Agência O Globo
Movimentação no centro da capital amazonense, Manaus, uma das maiores cidades do país — Foto: Julcemar Alves/Onzex Press e Imagens/Agência O Globo

Após mais de 10 anos sem o mais completo retrato da população brasileira, o IBGE apontou que o país teve um crescimento habitacional considerado baixo, atingindo a marca de 203,1 milhões de habitantes. O resultado reflete fatores atípicos vivenciados na última década, como a pandemia da Covid e a epidemia do zika vírus.

Várias capitais viram a população diminuir. Isso é reflexo da migração para cidades vizinhas. Salvador caiu tanto que Brasília a ultrapassou como terceira maior capital do país.

O número de pessoas que não quiseram participar da tradicional pesquisa também surpreendeu. Em cerca de 1 milhão de domicílios, moradores se recusaram a responder o IBGE, o que corresponde a 4% das casas brasileiras.

  • População: 203.062.512
  • Moradores por domicílio: 2,79
  • Cidade mais populosa: São Paulo
  • Menor cidade: Serra da Saudade (MG)