O beisebol do Brasil, cuja seleção é uma mescla de atletas profissionais que jogam em ligas no exterior com atletas “de final de semana”, que moram no Brasil e têm outras profissões, pode entrar na zona de medalha dos Jogos Pan-americanos de Santiago-2023. Líder do Grupo B, com duas vitórias e nenhuma derrota, o Brasil enfrenta Cuba nesta terça-feira, às 9h30 (de Brasília), e depende apenas de si para avançar. É a primeira vez que a seleção brasileira tem a chance de chegar às semifinais da competição.
A modalidade, incluída no programa olímpico em Barcelona-1992, com Cuba campeã, permaneceu até Pequim-2008. Chegou a retornar em Tóquio-2020, tirada da edição de Paris-2024 e incluída novamente em Los Angeles-2028.
O Brasil, atual campeão sul-americano, tem feito História em Santiago-2023. Na estreia venceu a Venezuela, sexta colocada no ranking mundial, por 3 a 1. O Brasil é o 24.º. Com esta vitória, a seleção repetira a última participação, no Pan do Rio-2017, quando venceu um candidato ao pódio. Na ocasião, derrotou a Nicarágua. Na sequência, perdeu para a República Dominicana e para os Estados Unidos e não avançou.
Empolgados com a vitória de estreia em Santiago, o Brasil fez partida excepcional contra a Colômbia, no domingo. Perdia por 4 a 0, empatou no último inning (entrada) e o jogo foi decidido nas entradas extras. Os brasileiros venceram por 8 a 7, após 3h30 de partida.
A rodada desta terça-feira definirá os semifinalistas e o Grupo B pode ficar embolado, com empate entre Cuba, Brasil e Venezuela, e ter de desempatar numa combinação matemática.
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Dos 23 atletas do Brasil, cinco atuam no exterior, entre times das Minor League americana (os arremessadores Erick Pardinho, do Toronto Blue Jays, e Gabriel Barbosa, do Colorado Rockies), Japão (os arremessadores Felipe Natel e Enzo Sawayama, ambos no Yamaha) e França (o receptor Gabriel Barros). O time tem ainda doze atletas que já atuaram no exterior, cinco que nunca saíram do Brasil e um que faz college nos EUA, com bolsa pelo beisebol. O técnico Ramon Ito, que também orienta o time de Marília, trabalha com TI.
Márcio Roberto Irikura, chefe da delegação do beisebol, explica que para a disputa do Pan-americano, a Confederação Brasileira da modalidade obteve ajuda financeira do Comitê Olímpico do Brasil (COB). A entidade também bancou as despesas para o Sul-americano de 2022, em que o Brasil foi ouro e conquistou vaga para Santiago-2023.
Assim, os atletas puderam fazer camping de treinamento uma vez por mês, desde março, no interior de São Paulo. Isso nunca havia acontecido. Eles apenas se juntavam dois meses antes das competições.
— A gente não veio para competir, fazer número. Viemos para tentar uma medalha inédita. Já foi o tempo em que a gente entrava na competição por entrar — fala o chefe de equipe, que espera consolidar uma seleção permanente para 2028. — O trabalho começa agora para uma classificação inédita. O Brasil nunca foi aos Jogos Olímpicos.
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Para Salomon Koba, de 26 anos, um dos receptores e destaque na estreia, os campings motivaram os atletas. Disse que “o pessoal veio mais animado”:
— Já que a gente teve essa chance, a gente não quis e não quer perder o foco de tentar uma medalha inédita. Nosso intuito é fazer História — declara Salomon, que é dentista na capital paulista durante a semana, e joga beisebol nos finais de semana no Nippon Blue Jays, em Arujá. — O barulho do taco na bola, a resenha com os amigos e o churrasco depois são a minha terapia.
Ele lamenta que os times no Brasil não paguem salários e que na maioria das vezes os atletas arquem com as despesas do clube e de sua comissão técnica.
— A maior parte faz festas para arrecadar dinheiro e pagar as viagens dos atletas. Às vezes não dá para cobrir e a gente acaba entrando com alguma coisa. Se eu pudesse faria só o que eu amo de paixão, que é o beisebol — acrescenta o atleta que já jogou profissionalmente no Japão, em 2019.
O arremessador Eric Pardinho, de 22 anos, que joga desde 2028 profissionalmente no Toronto Blue Jays, da Minor League dos EUA, diz que o Brasil vai em busca de resultado mas também de incentivo à modalidade.
E não duvide de sua persistência. Ele sonhava em ser jogador de beisebol aos 6 anos. Aos 13 anos foi morar em Ibiúna, na Academia de Beisebol Yakult, que prepara crianças para jogar e estudar no exterior. Ficou quatro anos até assinar o primeiro contrato.
— Esse sonho realizei mas continuo sonhando. Vamos jogar com o coração, confiar um no outro e dar o nosso melhor. Viemos para Santiago para o ouro e jogo é jogado. Não dá para saber o que vai acontecer na véspera.
*A repórter viaja a convite da Panam Sports