A visita do presidente dos EUA, Joe Biden, a Israel durante a guerra para reiterar apoio total ao governo local foram fortemente elogiadas pela população israelense nesta quinta-feira (19), mas o nível de influência do líder americano no conflito gera preocupação. O enfraquecimento do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu diante dos ataques, que já levaram à morte de mais de 1,4 mil israelenses desde o último dia 7, abriu brecha para Biden influenciar a forma como Israel deve agir durante a guerra contra o grupo terrorista Hamas.

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Biden abraçou Israel, mas também alertou para que não exagerasse no conflito na região a seu favor — e, implicitamente, aos Estados Unidos. Ele chegou a comparecer a um gabinete de guerra para ser informado sobre os planos de Israel, como fez antes dele o secretário de Estado americano, Antony Blinken.

Esse nível de consulta é raro — se não inédito —, mesmo em uma relação tão próxima como a de Israel e Estados Unidos, na avaliação de analistas israelenses. Opera como uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo em que traz benefícios para Netanyahu, há riscos inerentes. Esse movimento pode dar a ele cobertura política para estender a guerra, mas pode limitar a sua postura em campo. Por outro lado, caso Israel seja culpado por ter avançado demais no conflito, os EUA podem ser vistos como colaboradores.

“O falecido Ariel Sharon já dizia: ‘Nós iremos nos dever por nós mesmos'”, afirmou o analista Nadav Eyal, em artigo publicado no jornal Yedioth Ahronoth. “Esses não são os valores que Netanyahu vinha projetando nesses últimos dias. Ele parece ansiar se tornar o 51º presidente dos EUA. Isso vem com um preço, tanto simbólico quanto prático”, escreveu.

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A avaliação do analista foi endossada por Nahum Barnea, um dos mais respeitados comentaristas de Israel, que destaca a posição clara de Biden no conflito em artigo ao Yedioth: o presidente afirmou que não vai abandonar o Estado judeu, mas não vai permitir que faça o que bem entender.

“Israel não compartilha seus planos militares com os Estados Unidos. Aviso prévio, sim; consideração, sim; pedir permissão, não”, afirma Barnea. “Netanyahu, ao contrário, incluiu os americanos no processo de tomada de decisão no gabinete de segurança e no gabinete de emergência. Isso quer dizer que Biden vai ser responsabilizado por qualquer coisa que Israel fizer em Gaza”, disse.

As críticas ao papel ativo dos EUA na condução da guerra, no entanto, partem da esquerda à direita. Conferencista da Escola de Política Pública e do Departamento de Comunicação da Universidade Hebraica de Jerusalém e apoiadora de longa data de Netanyahu, Gadi Taub defende que Biden limitou a habilidade de Israel para lutar a guerra até uma conclusão necessária.

“Biden bloqueou qualquer caminho para uma inequívoca vitória de Israel, algo que deixará claro aos nossos inimigos que somos fracos e dependentes de outros. Apesar da promessa de solidariedade e ajuda, ele deu uma contribuição importante para alterar o equilíbrio do poder na região a nosso favor”, afirmou, em uma publicação no X, ex-Twitter.

Elinat Wilf, ex-integrante esquerdista do Parlamento Israelense, destaca que, com a perda de poder de Netanyahu, o país vive um vácuo de poder e precisa de apoio e liderança. “Não tem governo. Os Estados Unidos entenderam isso logo e estão agindo em sintonia”.