A família do torcedor Reinaldo Baptista da Silva Junior, morto após ser baleado durante uma briga entre torcidas organizadas do Flamengo e do Vasco, em Cosmos, na Zona Oeste do Rio, chegou ao Instituto Médico-Legal por volta das 8h. De cabeça baixa e muito abalada, a mãe do flamenguista, Rosilene Baptista, preferiu não dar entrevistas. Disse apenas que a partida precoce de seu filho do meio “era uma tristeza profunda”.

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Reinaldo tinha 35 anos, era casado, pai de uma criança de três anos e trabalhava como eletricista na área de construção civil. Segundo parentes, o rapaz era “apaixonado pelo Flamengo e muito trabalhador”.

A viúva de Reinaldo, Luany Dias de Oliveira, de 29 anos, disse que o marido não fazia parte da torcida organizada “apenas era simpatizante”. Ou seja, ele acompanhava os eventos, mas não era integrante do grupo. Ela diz que Reinaldo sabia o risco que era ir aos jogos, mesmo não sendo membro da torcida.

Luany trabalha como auxiliar de creche. O casal estava junto há mais de cinco de anos. Segundo ela, o marido havia comprado um apartamento em Madureira, bairro onde moravam, há um mês. O sonho da casa própria fazia parte dos planos do casal que foi interrompido pela violência.

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O ocorrido durante a confusão na estação de trem de Cosmos foi detalhado pelo primo da vítima, Valdair Bomfim, que o acompanhava no momento em que Reinaldo foi atingido por disparos. O tiro, segundo Valdeir, foi disparado por alguém que estava em um dos vagões.

Os dois primos estavam na plataforma quando ouviram tiros e correram para se abrigar. A bala acertou Reinaldo no tórax, atravessou as costas e perfurou o coração. Valdeir afirma, ainda, que por conta da confusão, não conseguiu identificar se a pessoa que fez o disparo usava camisa de time. Toda a confusão durou cerca de 20 minutos.

— Ouvimos os disparos e nos abaixamos. Começou uma gritaria. Tudo foi muito rápido. Depois de alguns tiros, vi um homem caído no chão, sob os meus pés, com as costas sujas de sangue. Quando virei o corpo, vi que era o meu primo. Vi que o homem caído no chão era o Reinaldo — contou.

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Após o ataque, foram minutos de desesperos e corrida pela vida do torcedor, conta Valdeir que trabalha como motoboy.

Reinaldo foi atingido às 11h, levado para o Hospital municipal Rocha Faria, em Campo Grande, por volta de 13h e teve sua morte confirmada pelos médicos às 14h.

— Nosso filho já sabe que o pai morreu. Ele chora o tempo todo e pergunta por ele. Quando aconteceu tudo, eu estava em um batizado. Me disseram que meu marido tinha sido atingido com um tiro de raspão no braço. Só quando cheguei no hospital que avisaram que a situação era mais séria — contou Luany.

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Segundo parentes, todo o atendimento no hospital durou cerca de 40 minutos. Reinaldo não precisou passar por cirurgia, chegou a ser reanimado pelos médicos, porém não resistiu ao ferimento.

Valdeir afirma que ele e Reinaldo não faziam parte da Torcida Organiza Raça Rubro-negra. Eles tinham o hábito de ir aos jogos juntos por ser uma tradição da família.

— Todos na família são flamenguistas. Meu primo levava o filho para os jogos. A gente também tinha o costume de ir juntos. Meu primo não era envolvido com nada, era trabalhador. Não sei se vou conseguir ir aos jogos depois disso. Só o tempo vai dizer — lamentou.