Pela primeira vez na história, a Argentina pagou ao FMI um vencimento de cerca de US$ 2,7 bilhões nesta sexta-feira usando o yuan acordado com a China, conforme anunciou o Ministério da Economia.

É uma situação atípica que mostra claramente as dificuldades que o país atravessa para gerar dólares. Basicamente devido à dinâmica fria de exportação e ao impacto da seca no campo.

O FMI reconheceu formalmente o pagamento por meio de um comunicado e descreveu a situação argentina como “desafiadora”.

“Prosseguem as discussões técnicas sobre um pacote de políticas para salvaguardar a estabilidade econômica, no contexto de uma situação desafiadora, em parte afetada pela seca histórica”, disse Julie Kozack, diretora de comunicações do FMI. E esclareceu que “as discussões estão focadas no fortalecimento das políticas macroeconômicas para apoiar o acúmulo de reservas e melhorar a sustentabilidade fiscal, protegendo os mais vulneráveis”.

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Com esse cenário, na próxima semana o chefe da Assessoria, Leonardo Madcur; e o vice-ministro da Economia, Gabriel Rubinstein, viajarão a Washington para convencer os técnicos da organização internacional da necessidade de obter um adiantamento sobre os desembolsos que o gabinete econômico inicialmente calculou em 10 bilhões de dólares, mas que conforme a lupa avança FMI técnica em contas fiscais locais está deflacionando em sua reivindicação. Fontes próximas ao Palácio de Hacienda consideram que, neste momento, cinco bilhões de dólares seriam considerados um sucesso.

Segundo fontes do mercado e analistas próximos às discussões em Washington, o Fundo teria reservas em aprovar um grande desembolso que poderia evaporar na manutenção do dólar sob controle em meio à explosão eleitoral.

Conforme avança o PROFILE, até o momento não foi confirmado que o ministro (e candidato presidencial da Unión por la Patria) se juntará à missão. Não está claro o quanto a dupla condição do chefe da Economia agrega ou não, na perspectiva do FMI, na renegociação do acordo, já que se desconta de Washington que o próximo governo (seja ele qual for) deve renegociar todo o acordo.

Diante da falta de dólares no Banco Central, o governo já havia sinalizado que usaria US$ 1,7 bilhão em direitos especiais de saque (DES, moeda do FMI) e o restante seria o yuan que vem do swap com a China, parte do US $ 10 bilhões que você tem disponível gratuitamente.

Sergio Massa, que acaba de completar sua primeira semana como timoneiro econômico e candidato do partido governista, agora concentrará seus próximos passos em sustentar a desaceleração da inflação com um estrondoso piso mensal de 7% e por isso aposta em estender o prazo congelamento de preços e reativação do consumo.

Outra missão será fortalecer as moedas. Nesse sentido, lançou benefícios para as férias de inverno. “Temos que bater o recorde histórico de visitantes estrangeiros nessas férias de inverno na Argentina”, afirmou. “O turismo é uma indústria que gera emprego permanentemente. E esses dólares que almejamos arrecadar nessa temporada recorde vão servir para duas coisas muito importantes: tentar amenizar o drama que a seca nos deixou em termos macroeconômicos, que foi de US$ 20 bilhões”, enfatizou.

Por outro lado, a equipe econômica também destacou nesta sexta-feira que a produção de gás não convencional de vaca morta Atingiu cerca de 57,3 milhões de metros cúbicos em maio, o que representa um aumento interanual de 10,7% e um crescimento de 11,1% em relação a abril, segundo cálculos do Ministério da Energia.

A economia de energia com a entrada em operação do Gasoduto Néstor Kirhcner também representa um objetivo que, do ponto de vista oficial, visará desestressar a demanda de dólares para importar, gerando receitas em divisas com a exportação de energia.

Versões sobre Boudou e a negociação

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Capturar. Declaração formal de ontem do Fundo.

Tanto o FMI quanto o BCRA ratificaram nesta sexta-feira, 30, em ambos os comunicados de imprensa, o pagamento oficializado ao Fundo por um total de 2.700 milhões de dólares com o swap chinês.

Houve um fato curioso no mercado que saiu da boca de Leopoldo Moreau em declarações de rádio. Ele confirmou que o ex-vice-presidente Amado Boudou, condenado em 2018 a 5 anos e 10 meses pelo caso Ciccone e inabilitado para sempre para o exercício de cargos públicos, “trabalha” na discussão com o FMI. “Nossa força política tem dito que o convênio com o Fundo terá que ser reformulado. Nesse sentido, Massa concordou com isso e Boudou está trabalhando com o ministro da Economia”, especificou Moreau em declarações ao AM750.

No Ministério da Economia negaram essa participação nas discussões.